Foto e biografia: Wikipedia
ROBERT BRINGHURST
( U. S. A. )
Robert Bringhurst (Los Angeles, 16 de outubro de 1946) é um escritor, poeta e um dos tipógrafos e designers de livros estadunidense mais conceituados na América do Norte.
Atualmente vive no Canadá. É conhecido por seus textos sobre tipografia, em especial pelo livro Elementos do Estilo Tipográfico.
Obra Traduzida:
Elementos do Estilo Tipográfico. São Paulo: Ed. Cosac & Naify. 2005
A Forma Sólida da Linguagem. São Paulo: Rosario. 2006
TEXTS IN ENGLISH - TEXTOS EM PORTUGUÊS
INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 17 – 2º SEMESTRE 2003. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi.
Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 2005. 264 p.
ISSN 415-9767. Ex. bibl. de Antonio Miranda
GIOTTO´BONES
They were underneath the Duomo — just
below the stone floor, precisely where
Vasari said the marker used to be — and no one
meant to set them fire — and yet they lie here
naked in fluorescent light, for anyone to see —
heavy with mercury, lead and selenium:
the twisted , mismatched bones
of the man who could make plaster dust
and water, egg yolk, charcoal and red ochre
hunker down and sing the blues,
touching his brush — a vulture´s quill,
tipped with a cluster of boiled weasel hair —
to his lips, lifting his hunched right shoulder
a little bit higher, bringing his clenched left foot
a little bit closer, making a taut and perfect
gesture with a splotched, disfigured hand.
THE LIVING MUST NEVER OUTNUMBER THE DEAD
It is that simple. The living
must never outnumber the dead.
With us, at the moment, they do.
We have broken the rule.
They are hard words
to say to a woman,
preposterous words
to say to a child.
And I do not know what to do
except leave them behind
here in the air
where no one will find them.
FINCH
I keep a crooked wooden bowl
half full of birdseed in the garden
where the siskins and the finches,
crossbills, cowbirds, chickades
and red-winged blackbirds meet.
Each day among the finches
there is one — a female house finch,
Corpadacus mexicans, I believe —
who must have tangled with a predator,
or maye with a a truck.
Not one among the other acts
concerned. No one seems, in fact,
to notice the black cavity that once
was her right eye, the shattered
stump´ that used to be her upper beak.
And no one gawks or whispers
at the awkward sidewise motion
that enables her to eat. And no one
mocks, crunching a sunflower seed,
her preference for millet.
Where ostracism, charity or pity
might have been, there is reality
instead. I mean that their superlative
indifference is a kind of moral
beauty, as perfect as the day.
If the red-tailed hawk comes by,
or the neighbor´s cat, they mention
that to one another and are gone.
Thay also say hello; they say I am;
they say We are; they say Le´s finch
and make more finches. But I never
hear them talk of one another.
They speak of what they are, not what
they do or do not wish to be.
That is a form of moral beauty
too, as perfect as the day. Which is
to say they sing. By nothing
more than being there and being
what they are, they sing.
They sing. And that is that.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traduções de VIRNA TEIXEIRA
OSSOS DE GIOTTO
Eles estavam sob o Duomo — um pouco
abaixo do chão de pedra, exatamente onde
Vasari disse que a marca estava — e ninguém
pretendia libertá-los — e porém ele jazem aqui
nus sob a fluorescente, para qualquer um ver
pesados com mercúrio, chumbo e selênio:
os ossos torcidos, desiguais
do homem que sabia fazer pó de gesso
e água, gema de ovo, carvão e ocre vermelho
se juntarem e cantarem o blues.
tocando seu pincel — uma pluma de aburre,
coroada com um tofo de cabelo cozido de doninha,
para seus lábios, elevando seu corcunda ombro direito
um pouco acima, trazendo seu deformado pé esquerdo
um pouco mais perto, fazendo um gesto tenso e
perfeito com uma mão esguiçada, desfigurada.
OS VIVOS NUNCA SEVEM ULTRAPASSAR OS MORTOS
É simples assim. Os vivos
nunca devem ultrapassar os mortos.
Entre nós, agora, ultrapassam.
Nós quebramos a regra.
Estas são palavras duras
para dizer a uma mulher,
palavras absurdas
para dizer a uma criança.
E eu não sei o que fazer
exceto deixa-las para trás
aqui no ar
onde ninguém irá encontrá-las.
TURBILHÃO
Mantenho uma vasilha torta de madeira
metade cheia com sementes de jardim,
onde os pintassilgos e tentilhões,
cruza-bicos, graúnas, chapins
e rouxinóis de asas vermelhas se reúnem.
Cada dia entre os tentilhões
há uma — uma fêmea do gênero
Corpodacus mexicanus, creio—
que deve ter se metido com um predador
ou talvez com um caminhão.
Nenhum dos outros finge estar
preocupado. Ninguém parece notar,
de fato, o buraco negro que antes
foi seu olho direito, o despedaçado
coto que era o seu bico superior.
E ninguém espreita ou sussurra
sobre o difícil movimento lateral
que a permite comer. E ninguém
ri, ao mastigar uma semente de girassol,
de preferência dela por milhete.
Onde poderia haver ostracismo, caridade
ou piedade, existe ao invés,
realidade. Digo que a sua indiferença
superlativa é um tipo de beleza
moral, tão perfeita como o dia.
Se o falcão de cauda vermelha passa,
ou o gato do vizinho, eles avisam
um para um outro e se vão.
Também dizem olá: dizem Eu sous;
dizem Nós somos; dizem Vamos tentilhoar
e fazer mais tentilhões. Mas nunca
os escuto discutir uns com os outros.
Falam do que são, não o que
fazem ou não desejam ser.
Essa é uma forma de beleza moral
também, tão perfeita como o dia. O que quer
dizer que cantam. Apenas
por estarem ali e serem
o que são, eles cantam.
Eles cantam. E ponto final.
*
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Página publicada em dezembro de 2023.
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